SER LÍDER, UM DESAFIO PATERNO. Quais erros podemos cometer?
- Chileno Gómez (Marcus M C Gómez)
- 10 de ago. de 2020
- 6 min de leitura
Já esteve em algum cargo de liderança? Reparou que por muitas vezes teve que intervir entre seus subordinados como um pai que administra os conflitos entre seus filhos? Quais os principais erros que um líder poder cometer?
Ao ser pai me deparei com o maior desafio da minha vida. O sentimento de alegria e medo se confundiam a todo instante. A responsabilidade de criar uma criança e todo o peso que acarreta ser responsável pela educação me consumiam a todo instante. Quando tive meu segundo filho pressupus que já sabia o que fazer e que seria bem mais fácil essa experiência. Ledo engano.
Estar a frente de equipes é algo que constitui parte do meu ser. Desde minha primeira empresa aos 16 anos, sempre estive à liderança de pessoas. Muitas vezes meus subordinados tinham mais anos de experiência no mercado do que eu tinha de vida. Isso sempre foi um desafio para mim enquanto jovem líder. A medida que os anos foram passando fui aprendendo e construindo minha forma de liderar. Hoje, já aos quarenta anos, tendo tido diversos empreendimentos e mais de dois mil funcionários ao longo desses anos, liderar ainda é desafiador. Nesse ponto podemos ressaltar o primeiro grande erro ao assumir a liderança de uma equipe, ACHAR QUE JÁ ESTÁ PRONTO. O líder que pressupõe que não tem nada a aprender ou que sabe de tudo não consegue evoluir.
“É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe”. (Epicteto 50 d.C. – 135 d.C.)
O filósofo romano Epicteto, no primeiro século, nos aponta de forma clara e precisa como o aprendizado só é possível se não tivermos por verdade que sabemos tudo a respeito de algo. Quando pressupomos que somos possuidores de todas as respostas deixamos de criar um diálogo com nossos subordinados. A comunicação passa a ser apenas em uma via, onde o chefe só comunica o que quer e os funcionários obedecem. Reparou que usei a palavra chefe e não líder? Sim, existe uma grande diferença entre um chefe e um líder. Mas, falaremos sobre isso daqui a pouco.
“Faça isso porque estou mandando, sou seu pai, eu sei o que é melhor para você”. Já ouviu essa frase alguma vez? Todos nós já ouvimos ou mesmo já falamos essa frase em algum momento. Criarmos uma criança nos dá a impressão de que nós detemos a verdade e que ela deve apenas ouvir e obedecer, só assim se dará bem na vida. Contudo, a medida que a criança cresce, se dará conta de que, seu modo de ver o mundo, ou como seu pai fez consigo quando jovem, já não dá conta de todas as necessidades do seu filho. De forma correlata, imitar um antigo chefe ou mentor não dará conta de todos os problemas que terá como gestor de uma equipe. Ter ciência desse fato é o primeiro passo para construir uma liderança.
Lembra de como era frustrante quando era criança e não podia falar sua versão dos fatos? Fosse por um pai autoritário, uma professora ou qualquer outro adulto que não lhe deixasse falar para se explicar. Eu, particularmente, me sentia extremamente desanimado quando ocorria algo do tipo. Infelizmente tendemos a replicar esse tipo de comportamento ao nos tornarmos adultos, seja com nossos filhos, seja com figuras que exercemos autoridade. Sigmund Freud (1865 d.C. – 1939 d.C.), pai da psicanálise, chama esse fenômeno de identificação positiva. Positiva não por ser uma boa atitude, mas por replicar algum padrão que nos é familiar. Aí está o segundo grande erro que podemos cometer como gestores de pessoas, NÃO OUVIRMOS O PONTO DE VISTA DOS MEMBROS DA EQUIPE. A comunicação de apenas uma via nos deixa surdos e cegos sobre o que ocorre em nossa equipe. Criar o hábito de ouvir seus subordinados, sem julgamentos, criará um vinculo de confiança deles para contigo, possibilitando assim uma visão ampla do que realmente ocorre sob sua gestão.

Certa vez, enquanto ainda era um adolescente, ouvi meu pai conversando com um amigo. O amigo perguntava como meu pai fazia para que obedecêssemos, pois ele tinha problemas com relação a desobediência dos filhos. Embora ele fosse enérgico com os filhos, eles teimavam em não obedecê-lo em alguns assuntos. A resposta que meu pai deu marcou minha vida para sempre, como líder e como pai. Meu pai lhe disse: “você pode falar o que quiser para seus filhos, mas seu exemplo grita tão alto que eles não escutam o que você diz”. O terceiro grande erro de um gestor de equipe é NÃO FAZER O QUE QUER QUE SUA EQUIPE FAÇA. Aquela velha máxima “faça o que eu falo, não faça o que eu faço”. Não funcionou com você quando era criança, não funcionará com seus filhos e muito menos com seus liderados.
“Liderar pessoas é administrar egos, dentre eles, o seu próprio ego”. Entender como sua equipe se correlaciona entre eles também faz parte da boa gestão.
Ao ter meu segundo filho, tive por certo meu sucesso como pai. Agora eu já era “experiente”, já sabia como as coisas funcionavam, não era mais um marinheiro de primeira viagem. Como disse no começo desse artigo, ledo engano. Meu segundo filho veio para me mostrar como cada um é diferente do outro. As mesmas atitudes não tem o mesmo efeito em todos. Mais um grande erro de um gestor de pessoas, o quarto ao meu ver, ACHAR QUE TODOS RESPONDEM AOS MESMOS ESTÍMULOS. Percebi que, dentre meus funcionários, alguns respondiam bem a certas atitudes minhas e outros não. Porém eu queria que todos na minha equipe tivessem um bom desempenho. Para entender isso fui estudar. Carl Gustav Jung (1875 d.C. – 1961 d.C.), psicanalista suíço, discípulo de Freud, estabeleceu em seus estudos, dezesseis tipos de personalidades possíveis. Essas personalidades são simbolizadas por quatro letras. Se você já fez teste de tipologia em alguma grande empresa, é quase certeza que já sabe as letras que correspondem ao seu tipo de personalidade. Quando entendi que agimos por padrões diferentes, percebi que, cada funcionário sob minha liderança precisava de uma maneira de se lidar com ele. Costumamos ouvir que devemos tratar todos da mesma forma. Isso não é verdade. Devemos respeitar a todos da mesma forma, mas devemos tratar cada um como deve ser tratado. Personalizar sua forma de agir com sua equipe não é fácil, é muito trabalhoso. Requer dedicação, tempo e estudo de cada indivíduo sob sua liderança. Porém, os resultados são incríveis.
Lembra que eu disse que existe uma grande diferença entre um líder e um chefe? Então, um chefe lidera pelo medo, enquanto um líder lidera por autoridade. Entendemos autoridade aqui por uma posição de respeito conquistada pelo exemplo. A equipe reconhece a autoridade de um líder pela excelência que ele faz seu trabalho, pela forma como ele exige o que ele mesmo faz, pelo respeito que ele demonstra a cada membro de sua equipe, independente do cargo ou posição. Entendemos autoridade aqui não por um posto hierárquico maior, mas pelo poder de influenciar e inspirar pessoas. Grandes líderes da história não tinham o menor poder sobre seus seguidores e influenciaram milhões a seguir seus passos. Nomes como Mahatma Gandhi, Buda ou Jesus figuram entre os maiores líderes da história da humanidade. O que eles tinham em comum além de não ter poder de coação? Eles agiam de acordo com o que pregavam. Foram exemplos em suas próprias vidas dos valores que defendiam. Nunca foram grossos, desrespeitosos ou arrogantes com seus seguidores, muito pelo contrário, sempre buscaram entender as limitações e experiências de cada um. Ao inspirar pessoas, milhões os seguiam. Os seguiam de bom grado e com alegria, não por obrigação ou por medo.
De fato, ser líder é um desafio paterno, assim como diz o título desse artigo. Os desafios de liderar pessoas são perfeitamente correlatos a experiência de ser pai. Os medos, as incertezas, as inseguranças e as frustrações podem ser comparadas sem nenhum problema. Contudo, assim como os desafios são correlatos, as felicidades e recompensas também o são. Tal qual ser pai, ver sua equipe se desenvolver de forma saudável, honesta e vitoriosa lhe dará enormes alegrias. Como um filho que cresce decente, trabalhador, honesto e estudioso, sua equipe será um motivo de orgulho e satisfação se bem gerida. É claro que problemas e dificuldades virão, mas se a base for sólida, passarão por qualquer crise que se apresente.
Não poderia terminar esse artigo, se não, por repetir uma das grandes máximas aprendidas com meu maior exemplo de ser-humano, de pai e de líder, meu amado pai: “Você pode falar o que quiser aos seus filhos, mas seu exemplo grita tão alto, que eles não escutam o que você diz”. (Eduardo Fco. Gómez Cano)
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