top of page

A morte existe de fato?

  • Marcus M. C. Gómez
  • 24 de out. de 2018
  • 4 min de leitura

Como assim? Que pergunta mais ridícula, pensará você ao ler o título desse texto.

-É claro que a morte existe, vemos pessoas morrerem todos os dias.

Bom, desde de que nascemos ouvimos falar sobre a morte. Sendo assim, temos por absoluto sua existência. Contudo, já se perguntou, o que seria a morte de fato?

Há exatos dois meses desse dia em que escrevo esse artigo, perdi minha mãe. Há três dias atrás perdi uma grande amiga. Duas perdas irreparáveis que estão me custando muito. Dadas essas perdas, passei a refletir sobre o que seria a morte. Contudo, antes de falarmos sobre a morte, necessariamente precisamos falar sobre a vida. O que é a vida? Como podemos definir a vida?

Há muitas definições para a vida, porém, irei trabalhar com uma definição criada por mim.

"A vida é movimento. É matéria que se transforma ininterruptamente de forma involuntária de dentro para fora. É o intervalo do nada da pré existência para o nada da pós morte." (Marcus M. C. Gómez)


Outros autores discordarão de mim. Um deles, nada mas é, do que o maior expoente da história da filosofia, Platão. Para Platão, o homem é dividido em duas partes, a saber, corpo e alma. Não só o homem é dividido em duas partes, mas a realidade também. Platão dirá que existem dois mundos, o mundo sensível e o mundo inteligível, ou mundo das idéias. O mundo sensível é o mundo que nós vivemos e que pode ser sentido por nossos sentidos, por isso, sensível. Esse mundo é imperfeito, temporal e mutável. Já o mundo das idéias é perfeito, eterno e imutável. É no mundo das idéias que as coisas são de verdade. Para Platão, o mundo sensível é apenas uma cópia mal feita do mundo das idéias. Sendo assim, o mundo das idéias só pode ser alcançado pela alma. Antes de nascermos nossa alma estava no mundo das idéias. Quando nascemos ela é aprisionada por nosso corpo. Nosso corpo atrapalha a alma de pensar sobre as grandes verdades do universo. Só retornaremos para o mundo das idéias quando morrermos e nossa alma puder se libertar da matéria e voltar para o mundo das idéias. Dessa forma, a alma deseja desesperadamente voltar ao seu lugar perfeito. A vida, para Platão, é um treinamento para o pós mortem. Se conseguirmos pensar bem com o corpo atrapalhando, pensaremos muito melhor quando nos livrarmos dele. Nesse caso, para os filósofos chamados IDEALISTAS como Platão, a morte é apenas uma passagem para um estado melhor, então é desejável. Uma condição de não corpo, onde a alma desfrutará da perfeição absoluta.


Reparou em alguma coisa familiar no conceito dos idealistas? É exatamente o conceito cristão. Não acredita? Apenas troque mundo das idéias por céu. O céu é perfeito, eterno e imutável, onde tudo é o melhor possível e você estará enfim melhor do que nunca.

Em resumo, para os idealistas, a morte não existe materialmente. A morte não tem materialidade ontológica.



Se falamos que Platão não concorda com minha definição, posso dizer que pretendo me contrapor à tamanho expoente da filosofia? Minha pretensão não chega a tanto. Posso dizer que faço parte de outra grande linha de pensamento, os Materialistas. Baseio minha definição nos pensadores materialistas de grande peso como Aristoteles, Epicuro, Nietzsche e muitos outros.

Os Materialistas não crêem em outro mundo à parte do mundo sensível. Para eles, ou melhor, para nós, só existe esse mundo e nada mais.


Epicuro, filósofo grego que viveu mais ou menos 300 anos antes de Cristo faz uma reflexão peculiar sobre a morte. Diz Epicuro: "Quando nós somos, a morte não é. Quando ela é, nós não somos mais".

Epicuro defende que a morte é a inexistência de sensações. Sendo assim, quando nós somos, ou quando ainda existimos, a morte não é. Quando a morte é, ou seja, quando ela chega, nós já não estamos mais aqui, e por não termos mais sensações, não temos como senti-la. Dessa forma, a morte não existe materialmente. A morte, tampouco tem materialidade ontológica para os materialistas.


Pera lá, se morte não existe de fato para os idealistas, e não existe de fato para os materialistas, a morte não existe? Não vejo pessoas morrerem todos os dias?


Vamos lá. Na verdade, a morte não existe, como a escuridão também não existe. A escuridão é a condição de ausência de luz. Contudo, a escuridão também, como a morte, não tem materialidade ontológica. Seguindo esse raciocínio, a morte é a não vida, ou ausência de vida.


O que dá valor a vida então? A resposta é simples: a morte.

Como assim? acabamos de dizer que a morte não existe. Como ela pode dar sentido a vida?


A vida é rara, única e irrepetível. A consciência de nossa finitude que dá sentido a nossa existência. Só damos valor a vida por sabermos que ela é finita.

Independente se você é um idealista religioso ou um materialista ateu, a única certeza que temos é dessa vida, do aqui e o agora. "O tempo é inexorável e a vida efêmera" ( Maria J. C. Gómez), me dizia minha mãe.

Ame as pessoas que você têm hoje. Seja o melhor ser humano possível. Não perca tempo sendo medíocre. De pessoas medíocres o mundo está cheio. Seja FODA! Só assim, poderemos olhar para nossa vida e partir para a não vida com plena satisfação em nossos dias sobre essa terra.


 
 
 

Comments


  • Grey Google+ Icon
  • Twitter Clean Grey
  • Grey YouTube Icon
bottom of page