Não Seja Feliz
- Marcus M. C. Gómez
- 10 de ago. de 2017
- 3 min de leitura
Não, você não leu errado, e nem o titulo esta incorreto. Porque nos causa tanto desconforto a frase “não seja feliz”?
Por um simples motivo, você e eu fomos criados com a ideia contrária. Desde que nascemos aprendemos que devemos buscar a felicidade. Devemos crescer, estudar, arrumar um bom emprego, casar, ter filhos e sermos felizes. Tudo tão fácil e tão perfeito que soa até como utópico.
É tão utópico que chego a desconfiar que realmente é. Vejamos porque não devemos buscar a felicidade.
Comecemos conceituando o que é felicidade. Segundo o dicionário, felicidade é “qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar”.
Busquemos um conceito mais filosófico sobre o que é felicidade. Para o filosofo do século XVII Baruch Spinoza, felicidade é a passagem para um estado mais potente de si mesmo. Quando estamos felizes, temos mais de nós em nós mesmos, ao passo que ficamos tristes, temos menos de nós em nós mesmos.
Usemos a definição de Spinoza para conceituarmos felicidade. Sendo dessa maneira, a felicidade plena, como nos é ensinado a buscar, é uma impossibilidade. Se ser feliz é um estado de mais potência de nós em nós mesmos, não podemos ser felizes o tempo todo. A felicidade é o nome que se dá aos picos de potência por nós alcançados.

No século XVIII o filósofo alemão Immanuel Kant fará uma reflexão sobre a felicidade. Kant dirá que absolutamente nada na natureza é em vão, sendo assim, a capacidade de pensar do homem impossibilita a felicidade. Para Kant, quanto mais pensamos, ou deliberamos, maior o poder de problematização, assim sendo, para ele, os animais nasceram para serem felizes e não o homem.
Um século após Kant, o também filósofo e também alemão Friedrich Nietzsche dirá que buscar a felicidade é niilismo. O prefixo NI vem do latim e quer dizer negação. Niilismo seria negação de valores ou ideais, contudo Nietzsche usa o conceito de niilismo de forma contrária à convencional. Nietzsche chama de niilista a quem se apega a qualquer conceito moral ou ideológico à fim de atingir um fim esperado. O niilista nega a vida real e o mundo como ele é de verdade para viver em função de um ideal inalcançável.
Vivemos em um mundo onde somos condicionados à que devemos buscar, que devemos valorizar e à que precisamos para sermos felizes. Tenha isso, tenha aquilo, conquiste isso, conquiste aquilo. Se você não tiver tal emprego ou tal renda nunca será feliz ou realizado. Se você não casar e não tiver filhos, se seus filhos não estudarem em tal lugar e bla bla bla. É assim, somos doutrinados sobre o que desejar, o que buscar e o que ser desde pequenos. Contudo, essa doutrinação está baseada no consumo. Não precisa ser muito esperto para entender que a indústria NUNCA deixará que as pessoas estejam satisfeitas. Claro que não, seria ruim para os negócios. Basta ver os altos índices de depressão e suicídio entre pessoas de fama, sucesso e dinheiro. Nada, nunca, será o suficiente para satisfazer a ideia de felicidade imposta à nós.
O filósofo, professor e dr. Clóvis de Barros Filho diz: “O mundo é infinitamente mais entristecedor do que alegrador”. Essa declaração é de uma lucidez gritante. Veja bem, a partir do momento que nos damos conta de que, as possibilidades de nos entristecermos são infinitamente maiores de nos alegrarmos, paramos de esperar ser felizes o tempo todo. Quando paramos de buscar a felicidade o tempo inteiro, não só paramos de nos decepcionar, como também passamos a aceitar as tristezas de maneira mais natural. Paradoxalmente somos menos tristes. Ainda podemos dizer que, ao deixar de buscar a felicidade acabamos sendo mais felizes.
Ou seja, ser feliz na vida, não é não ter tristezas e estar a todo tempo em êxtase e alegria. Ser feliz é o resultado de uma equação positiva entre momentos alegres e momentos tristes. Como assim?
Simples, quanto mais naturalmente aceitarmos, que as coisas ruins irão acontecer de maneira desproporcionalmente maiores que as alegres em nossas vidas, menos sofreremos com elas. Ao passo que deixamos de sofrer com coisas ruins, valorizamos muito mais os momentos alegres. Outro fator extremamente importante é que, ao parar de buscar a felicidade, deixamos de nos frustrar quando ela não ocorre, aumentando mais uma fator positivo em nossa equação.
Em síntese, paramos de nos frustrar e começamos a aceitar coisas ruins como inevitáveis e cotidianas. Valorizamos cada momento de alegria como único e irrepetível, resultado dos ineditismos de nossos encontros com o mundo. Quando conseguirmos minimizar a importância das tristezas e maximizar as alegrias, sem esperar disso uma satisfação plena, ai podemos dizer, somos felizes.
Marcus M. C. Gómez
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