E você, usa o jeitinho brasileiro?
- Marcus M. C, Gómez
- 18 de abr. de 2017
- 4 min de leitura
Você acha que falta ética no mundo? Falta ética aos políticos? O mais curioso é: o que se considera falta de ética ou não?
Todos concordam que roubar é errado, que desviar verba pública ou ainda aceitar suborno são exemplos crassos de falta de ética. O que me parece bastante peculiar é que absolutamente todos concordarão com essa afirmação, mas muito poucos conseguirão conceituar o que é ética de maneira satisfatória.
Em primeiro lugar devemos entender o que é ética. Com o passar dos séculos e até dos milênios a ética tem transitado entre diversas definições, tornando assim impossível criar um único conceito que possa abranger todos as definições já propostas. Tentar fazer isso seria o mesmo que pedir que explicasse em um único conceito todos os significados da palavra manga por exemplo. Isso para citar uma palavra que tem dois significados, um de uma fruta e outro da manga de uma vestimenta. Pôr em uma mesma explicação, em apenas um conceito esses dois significados seria impossível.
Sendo assim, analisemos algumas definições que a ética teve com o passar do tempo.
Aristóteles, filósofo grego que viveu por volta do ano 350 A.C. é conhecido como o pai fundador da ética, tinha por ética uma vida que se encaixasse no todo cósmico universal. Todos tinham um lugar pré-determinado no cosmos, achando seu lugar, deveria exercê-lo da melhor maneira possível, não importando se você era um escravo ou um aristocrata. Ele foi o primeiro a conceituar e escrever sobre o tema, tem um trabalho chamado “Ética a Nicômaco” que trata exclusivamente sobre o assunto.
Uns 350 anos depois de Aristóteles aparece Jesus e redimensiona todo o conceito de ética. A vida boa para Jesus era a vida aplicada a fé e ao cumprimento das ordens divinas, que incluíam conceitos como a famosa regra de ouro, “faça aos outros o que gostaria que fizessem a você”.
Damos um salto de 1.700 anos e encontramos o pai da ética moderna, Immanuel Kant. Kant era um intencionalista e para ele a conduta só seria ética se partisse de uma boa vontade. Para ele, uma mesma ação, poderia ser ética ou não, dependendo da intenção do ato.
Logo após Kant temos um grande filósofo e matemático, John Stuart Mill. Mill era um utilitarista e para ele a ação seria ética se fizesse bem ao maior numero de pessoas. Se fosse ruim para você mas fosse bom para a maioria o ato seria ético.
Nós iremos trabalhar com o conceito de ética dado por dois grandes mestres e doutores contemporâneos, a saber, Dr. Clovis de Barros Filho e Dr. Mário Sérgio Cortella. Para ambos ética pode ser traduzida por inteligência compartilhada”, ou ainda “um conjunto de regras pré-estabelecidas por um grupo ou sociedade visando a melhor convivência entre os membros do grupo em questão”. Assim a ética é sempre grupal, sempre irá fazer referência a algo que incida sobre os demais.
Queremos um país mais ético, mais justo, onde a convivência seja agradável e não sejamos explorados por excessivas cargas tributárias, que acabarão nos bolsos dos corruptos e não nas obras as quais seriam destinadas. A questão é : Como fazer isso? Posso participar em ajudar?
Como queremos um país ético se nossas crianças e nossos jovens não tem a menor ideia do que seria isso? São treinados desde de cedo a buscar uma profissão, estudam o teorema de Pitágoras ou ainda sobre mitocôndrias e organelas citoplasmáticas, mas não tem absolutamente nenhuma matéria ensinando padrões de comportamento aceitáveis a sociedade.
Correndo o risco de ser totalmente incompreendido pelos mais jovens, pude estudar os resquícios de “Educação Moral e Civil”, matéria que mais se aproximou de ensinar ética aos alunos. Onde se aprendia condutas e ações esperadas de um bom cidadão.

Eu estava em uma roda de amigos outro dia e os ouvia discursar de como os políticos são corruptos, como os grandes empresários deveriam ser presos por oferecerem propina e coisas do gênero. Em um determinado momento, um dos interlocutores interrompe o assunto e pergunta: -“Alguém tem algum esquema para tirar os pontos da carteira de motorista?”
Fiquei ainda mais perplexo ao ouvir outro dizer: - “Também estou procurando”.
É bastante curioso como as pessoas usam de eufemismos ao avaliar suas ações em contrapartida das ações alheias.
Não me contendo perguntei se o “esquema” em questão não seria exatamente a mesma atitude repreendida veementemente quando pela parte dos governantes. Frases conhecidas como “todo mundo faz”, “se eu soubesse que iria adiantar”, ou ainda “se eu tivesse certeza que todos fossem parar”, foram despejadas sem o menor pudor ou reflexão por parte do orador. É isso mesmo, é o famoso jeitinho brasileiro.
Não é o jeitinho brasileiro apenas um eufemismo para burlar as leis? Não evidencia uma falta de ética endêmica na sociedade num todo?
O “jeitinho Brasileiro” está tão embrenhado nas vísceras do tecido social nacional que já não se faz possível a identificação do mesmo. Uma mesma pessoa condena um terceiro radicalmente por ações anti-éticas e descabidas ao convívio social e ao mesmo tempo busca burlar leis e regulamentos que gerem o mesmo convívio.
Sejamos honestos com nós mesmos. Faço uso do jeitinho brasileiro? Furo filas? Ando no acostamento? Ofereço suborno ao guarda para não obter uma multa? Fraudo a companhia de seguros? Dou dados falsos para obter um desconto indevido? Faço um “gato” na tv a cabo?
Essas e muitas outras perguntas poderão nos fazer refletir sobre nossa real participação no caos moral que nos encontramos.
É interessante notar como o século XXI vem acompanhado de um sentimento de auto condescendência. Diferente da idade média onde 90% da população tinha certeza de que queimaria no inferno, hoje, mais de 85% crê que estará salvo no pós mortem, independente de sua crença. A pesquisa inclui todas as classes sociais, inclusive detentos em presídios.
Sendo assim, fica a reflexão a ser feita por nós: “sou parte do problema ou posso ser parte da solução?”
Encerro meu texto com uma frase ilustre de Mahatma Gandhi, “Seja a mudança que você quer ver no mundo”
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