Quem você é realmente?
- Marcus M. C. Gómez
- 9 de fev. de 2017
- 3 min de leitura
Lojas sendo saqueadas, leis sendo infringidas, assassinatos, estupros e uma infinidade de atrocidades sendo cometidas. Não, eu não estou descrevendo um cenário de guerra, pelo menos não uma guerra declarada de fato, nem estou descrevendo uma era medieval ou de invasões nórdicas, estou relatando uma simples noticia que assisti no telejornal. Com a greve da polícia no Espirito Santo, não só os crimes como assassinatos e assaltos aumentaram drasticamente, mas a própria população saiu as ruas para saquear lojas indefesas às turbas.
O caos instalado em grandes cidades como Vitória me remete a mesma falência do sistema prisional brasileiro que se encontra nas mãos das facções criminosas.
Tal situação não é nova, porém deveria causar espanto em pleno século XXI.
O filósofo e matemático inglês Thomas Hobbes (1558-1679) em sua obra “O Leviatã” já descrevia situações similares. Hobbes é considerado um filosofo contratualista, haja vista que, para ele, os homens se organizaram em sociedade por meio de um contrato social de convivência. Sendo assim, o contratualismo que estabeleceu a organização dos homens em sociedades. E para que?
Por um único motivo, poder dormir de porta aberta.
Para entendermos os porquês dessas premissas, primeiro precisamos conceituar o tão indesejado estado de natureza descrito por Thomas Hobbes.
Estado de natureza é onde o homem se encontrava antes de se organizar em sociedade. No estado de natureza prevalecia a lei do mais forte. Simples assim, absolutamente tudo era permitido. Se você conseguisse pegar e tivesse força para sucumbi-lo a sua vontade, assim o faria. A primeira vista parece uma boa maneira de viver, contudo analisemos melhor. Ainda que você fosse um homem adulto e de força avantajada, deveria necessariamente ter que dormir, ou descansar, ou ir ao banheiro, ou ainda envelhecer. É impossível estar alerta e preparado todo o tempo. No estado de natureza, manda quem tiver mais vontade e força para conseguir.
Agora imagine ser uma criança no estado de natureza, ou uma mulher, ou ainda um idoso, todos sujeitos aos caprichos de quem quiser e puder subjuga-los, sejam esses caprichos sexuais ou de qualquer natureza. Não parece um mundo muito atrativo de se viver. Justamente para acabar com o estado de natureza que os homens contratualmente se uniram em sociedade e criaram um governo para garantir a segurança. Esse contrato social que estabelece o governo é amplamente abordado por Hobbes na sua obra “O Leviatã” livro publicado em 1651.
Para Hobbes, a única e exclusiva tarefa do leviatã é garantir a segurança, especificamente “dormir de portas abertas”. Se o governo falha nesse aspecto ele simplesmente está rompendo o contrato firmado em sociedade. Contudo, o retrocesso ao estado de natureza e o alarmante caos instalado pela ausência da força policial aponta um problema ainda maior, um problema estrutural em nossa sociedade, um problema tão profundo que temo que não possa ser sanado.
Qual problema seria esse?
O prof. Dr. Mario Sérgio Cortella faz uma análise sobre um ditado popular que me esclarece o que está ocorrendo no Espirito Santo, ele diz: “costumam dizer que a ocasião faz o ladrão, porém isso está errado. A ocasião revela o ladrão. A ocasião só permite que ele aja de acordo com uma decisão tomada previamente.”
Ou seja, quando a população sai as ruas para saquear as lojas por falta de policiamento denuncia uma tremenda falta de ética e sobretudo moral. Evidencia uma sociedade doente e desprovida de qualquer senso ético de convivência.
Pensemos juntos por um momento, qual a diferença dessa população para o político que rouba milhões? A diferença é somente a oportunidade. Esse mesmo povo que reclama dos políticos deixa bem claro que faria exatamente a mesma coisa se assim o pudesse.
Talvez você ouça alguém argumentar, mas isso é lá no Espirito Santo. Bem, infelizmente, posso assegurar com absoluta convicção, que a mesma coisa não ocorre em outras partes do país única e exclusivamente por que ainda existe polícia nas ruas.
Vimos que Thomas Hobbes realmente tinha razão em contraposição ao filósofo francês Jean Jacques Rousseau (1712-1778). Para Rousseau o ser humano é essencialmente bom, mas é corrompido pela sociedade, enquanto para Thomas Hobbes o ser humano é mau por natureza e precisa de uma força de comando e sociedade para coibir seus impulsos. Hobbes diz "O homem é lobo do próprio homem, em guerra de todos contra todos".

Enfim, a educação começa em casa, educação de verdade, dessas raras de se ver hoje em dia. Já vi muitos analfabetos serem extremamente educados, educados no sentido de terem a melhor educação possível, serem íntegros e honrados, vivendo à altura de elevados padrões de moral e ética, mesmo sem saber escrever o próprio nome.
Basta uma reflexão para fazermos em âmbito pessoal, Quem sou eu de verdade? Ajo bem porque não tenho oportunidade de fazer diferente? Se assim for, que posso reclamar?
Marcus M. C. Gómez
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