Da igualdade e da razão
- Marcus M. C. Gómez
- 9 de out. de 2016
- 3 min de leitura
Conversando hoje com um velho amigo ele me suscitou uma questão aparentemente corriqueira e de fácil resposta, porém me fez pensar e refletir. A questão era: “Por que os homens gostam tanto de esportes de luta e as mulheres não? Ou pelo menos, por que as mulheres são a grande minoria?”
A primeira vista podemos destacar diversos motivos sociais, antropológicos e fisiológicos que de pronto respondem essa questão. Abordemos alguns deles e vejamos a que conclusão chegamos, por favor me acompanhem.
O homem, ainda que se esqueça disso, é um animal, e como tal, responde a estímulos fisiológicos e aos seus instintos. Sendo assim, quando vemos uma luta de boxe (exemplo dado por meu amigo), observamos dois machos que disputam uma posição de domínio e sobreposição ao outro. A liberação de feromônios é o principal resultado na disputa de machos dominantes. As fêmeas dos animais em geral respondem a liberação de feromônios de machos dominantes, visto que fisiologicamente buscam o exemplar mais forte e com melhores genes para a procriação da espécie.

Socialmente também, os homens são condicionados desde crianças a adotar uma postura de protetor e de “Macho Alpha”. Um homem que não sabe se defender, ou defender os seus não é homem”, com certeza ouvimos isso diversas vezes, já em contrapartida, as mulheres são criadas e formadas culturalmente para serem protegidas, terem uma atitude diferente muitas vezes implica em reprimenda social e estigma de não femininas.
Bom, até aqui tudo bem, nada de novidade ou grandes descobertas, contudo analisemos filosoficamente a questão.
Principio da igualdade
O mundo é desigual, isso não é surpresa para ninguém, porém de fato o mundo inteiro é desigual, absolutamente nada no mundo é igual a outra coisa sequer. Heráclito, filósofo grego que viveu quinhentos anos antes de Cristo, dizia que nenhum homem se banhava duas vezes no mesmo rio. Isso porque, ao entrar novamente no rio, o rio já não era o mesmo e nem o homem.
O principio da igualdade é um conceito que criteriosamente só existe na matemática, está fora do nosso plano palpável e se situa no mundo das ideias e conceitos. Os dons naturais como beleza, força física, inteligência, aptidão em esportes e tantos outros são distribuídos de maneira desigual pela natureza. O filósofo e sociólogo Pierre Bourdieu estabelece os conceitos de capital social e capital cultural que são tanto mais desiguais quanto os dons naturais.
Que conclusão chegamos?
Tudo bem, o que tudo isso tem a ver com a luta de boxe? Ora, exatamente tudo a ver. Quer ver?
Em uma luta de boxe ou qualquer outro esporte de luta os lutadores são separados por peso e posição no ranking. Outros esportes como artes oriundas do oriente ainda categorizam por idade, peso e graduação, ou seja, cada lutador irá enfrentar alguém de sua faixa etária, seu peso e mesma experiência na luta aplicada. Todas essas categorizações visam tornar o confronto o mais justo e equiparável possível. Acredito que exatamente nesse ponto que está o grande X da questão. Por vivermos em um mundo tão desigual, buscamos uma compensação na ideia de igualdade. Os esportes em geral, principalmente os esportes individuais transmitem uma ideia imanente de igualdade, ainda que ela seja falaciosa. Temos um senso de equidade inerente em nosso julgamento. Se nos deparamos com uma briga na rua onde um é um homem extremamente grande e musculoso e o outro é franzino e raquítico, qual é nossa primeira reação?
-Covarde! Bradará imediatamente ao homem grande sem sequer saber o porque do confronto.
Podemos concluir que buscamos por todos os meios compensar as desigualdades impostas a nós, sejam elas dons naturais, capital social ou ainda capital cultural, para tanto, finalizo com um dito popular que acredito caber como uma luva, “cada um joga com as armas que tem”.
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